Amamentação – Parte 3 – Leite Materno: como turbinar?

Como você já viu nos posts anteriores, o leite materno é produzido sob demanda, é um alimento vivo e que se transforma de acordo com as fases e necessidades do bebê.

Pensávamos até certo tempo atrás que a composição não variava muito com a dieta materna, mas estudos recentes desbancaram essa teoria.

De acordo com a quantidade e qualidade da dieta materna, podem ocorrer variações importantes nos seus constituintes.

E o pior é que basta o menino chorar mais um pouquinho, que todo mundo começa a te aperrear para mudar a alimentação, tirando exatamente tudo o que é importante para uma boa composição do teu leite, como as fontes de vitaminas, minerais e gorduras boas.

Aí te dizem:

– Comer peixe amamentando? Nem pensar! É carregado! Mas torta de chocolate pode!

E aí sou eu (o pediatra) e o bebê que choramos!

Então, vamos turbinar o leite materno?

Antes de mais nada, esse é um momento crucial para um nutricionista te ajudar, pois somente ele tem a autorização legal para prescrever o cardápio.

Só vou listar aqui algumas regrinhas gerais, ok?

Regra geral 1: coma alimentos com densidade nutricional!

  • Peixes e frutos do mar: salmão, algas, mariscos e sardinhas. Olho na qualidade e procedência!!!
  • Carnes: carne de boi, porco, cordeiro, frango e carnes de órgão, como o fígado (uma vez por semana).
  • Frutas e hortaliças: tomate, frutas vermelhas (se o bolso deixar), repolho, couve, alho e brócolis.
  • Sementes e castanhas: amêndoas, nozes, chia e linhaça.
  • Outros: ovos, aveia, tubérculos (batata doce, cará), quinoa, e chocolate com alto teor de cacau (70% ou mais).

A lista é enorme: o importante é não restringir mas qualificar.

Evite ao máximo os ultra-processados. Sei que você sempre vai ter uma tortinha à mão e umas lembrancinhas para os glutões que vem visitar a bebê, mas resista sempre que possível!

Regra 2: saiba quais vitaminas e minerais têm sua quantidade variável no leite de acordo com a alimentação

  • Vitamina B1 (Tiamina) – peixe, porco, sementes, castanhas e pão.
  • Vitamina B2 (Riboflavina) – queijo, amêndoas, castanhas, carne vermelha, peixes do mar e ovos.
  • Vitamina B6 – sementes, castanhas, peixe, frango, porco, bananas e frutas secas.
  • Vitamina B12 – mariscos, fígado, peixes do mar, caranguejo e camarão.
  • Colina – ovos, fígado de boi, fígado de frango, peixes do mar e amendoim.
  • Vitamina A – batata doce, cenoura, folhosos verdes escuros, carnes de órgãos e ovos.
  • Vitamina D – óleo de fígado de bacalhau, peixes do mar, alguns cogumelos e alimentos fortificados (laticínios)
  • Selênio – castanha do Brasil/Pará (uma só), frutos do mar, peixe, trigo integral e sementes.
  • Iodo – algas desidratadas, bacalhau, leite e sal iodado.

Incluir esses alimentos na sua alimentação vai aumentar a quantidade dos elementos no leite materno e seu bebê vai agradecer.

Além disso, os ácidos graxos essenciais que você consome (comendo animais marinhos por exemplo), fará com que a quantidade de ômega-3, especialmente DHA e ARA, subam no leite materno.

Esses são elementos essenciais para o desenvolvimento cerebral e visual do bebê. Se sua nutricionista e pediatra perceberem que sua dieta é deficiente, eles podem ser suplementados.

Regra 3: saiba quais são as fontes de outros minerais importantes, cujo consumo não altera muito a composição do leite (mas devem fazer parte da dieta materna!)

  • Folato: feijões, lentilhas, folhosos verdes, aspargos e abacate!
  • Cálcio: leite, iogurte, queijo, folhosos verdes e leguminosas.
  • Ferro: carne vermelha, porco, frango, frutos do mar, feijões, hortaliças verdes e frutas secas.
  • Cobre: frutos do mar, grãos integrais (verdadeiros!!!), nozes, feijões, carnes de órgãos e batata.
  • Zinco: ostras (cuidado com a qualidade!), carne vermelha, frango, feijões, nozes e laticínios.

Se você não comer esses alimentos em quantidade suficiente, o corpo vai usar suas reservas para não prejudicar a composição do leite. Por isso, se não comer bem e com qualidade, vai se sentir fraca!

Se não for possível comer alguns alimentos, é importante que seu médico e nutricionista prescrevam suplementos, mas essa é uma situação especial. Em geral, a nutrição deve vir da Comida de Verdade!

Regra 4: o que consumir com moderação

Algumas coisas precisam de moderação, mas não estão proibidas. Exemplo:

  • Cafeína – cerca de 1% da cafeína que você consome é transferida para o leite materno. Quantidades pequenas de cafeína não causam danos, em torno de 2 xícaras médias por dia.
  • Álcool – o ideal é não consumir álcool, pois ele vai para o leite materno e o bebê demora muito mais para metabolizar. Seu corpo leva de 1-2 horas para “limpar” da corrente sanguínea o equivalente à uma taça pequena de vinho, uma lata de cerveja ou uma dose de destilados. Portanto, em uma situação excepcional onde você queira ingerir uma taça de vinho, por exemplo, espere pelo menos 2 horas para oferecer o seio após ingerir.
  • Leite de vaca – cerca de 2-6% dos bebês podem desenvolver alergia à proteína do leite de vaca (APLV), mesmo em aleitamento materno exclusivo. Não tomar leite de vaca não evitará a APLV, mas caso exista essa suspeita, a dieta da mãe precisará estar 100% restrita para verificar o diagnóstico e durante o tratamento.

E aí, aprendeu como turbinar seu leite materno? Se gostou, compartilhe!

No próximo post, tudo de bom que o leite materno faz para a saúde do teu bebê.


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Dr Flávio Melo - pediatra

Sou médico pediatra há 11 anos, formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba e Pediatria no Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira (IMIP/Recife-PE). Enxergo que o futuro da prevenção na criança, passa por uma atuação nos hábitos familiares e estilo de vida, desde antes do casal engravidar.

22 comentários em “Amamentação – Parte 3 – Leite Materno: como turbinar?

  • 3 de agosto de 2016 a 20:15
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    Boa noite, lendo o post vi uma contradição com a pediatra do meu filho. Foi pedido que eu não ingerisse camarão, caranguejo e porco pelos menos ate os 6 meses.
    É necessário mesmo todo esse tempo sem comer esses alimentos?

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    • 3 de agosto de 2016 a 22:43
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      Não há motivo de restringir, apenas, em relação aos produtos do mar, não exceder mais que 2 vezes por semana e evitar peixes muito grandes, como tubarão, peixe-espada, que podem conter maiores concentrações de mercúrio. Há postagens sobre o tema no blog, procure que você vai achar.

      Responder
  • 3 de agosto de 2016 a 20:21
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    Olá doutor! Gostaria de saber sobre amamentação após dois anos,se é benéfico ou melhor parar? Ou quando devo parar?

    Responder
  • 4 de agosto de 2016 a 00:12
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    Dr gostaria de saber sobre alimentos que dizem dar colicas no bb minha bb tem um mes e a pediatra pediu pra nao comer couve brócolis feijao leite entre outras quase td dizem que da colica e no post vi varios alimentos que dizem dar colica isso procede?

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    • 4 de agosto de 2016 a 06:44
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      Não há nenhum artigo científico que comprove que esses alimentos podem causar cólicas e a retirada deles, sem a adequada substituição, como você leu no texto, pode prejudicar a composição do leite materno.

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  • 4 de agosto de 2016 a 07:32
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    Fiquei curiosa quanto a muitos destes alimentos após o desmame, minha filha tem 18 meses, com 1 ano desmamou e nunca ofereci frutos do mar (a não ser peixe), nem carne de porco. Ela deva ter uma reserva dos nutrientes importantes aqui apontados, é recomendado esperar até 2 anos como indica o senso comum com medo de alergias?

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  • 4 de agosto de 2016 a 10:26
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    Como o senhor recomenda produtos de origem animal pra turbinar o Leite Materno, é possível concluir que o LM de uma mulher vegana não será “turbinado”?

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    • 4 de agosto de 2016 a 17:07
      Permalink

      Está lá a recomendação de leguminosas, linhaça, etc. Concorda que a maioria não é vegana? Caso a lactante seja, aí a dieta será adaptada para “turbinar” do mesmo jeito. Se necessário, poderá ser suplementada.

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  • 14 de agosto de 2016 a 23:25
    Permalink

    Gostaria de saber se há algum alimento ou técnica para aumentar a quantidade de leite, meu menino de 3 meses mama a livre demanda, tem momentos do dia que ele fica irritado pois o leite diminuí muito e ele não quer parar de mamar

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    • 15 de agosto de 2016 a 08:51
      Permalink

      Infelizmente não posso orientar à distância, mas converse com seu pediatra e tente a ajuda de uma consultora em amamentação ou banco de leite humano.

      Responder
  • 7 de setembro de 2016 a 22:31
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    Olá. Então só devo eliminar o leite (e derivados) de minha alimentação se houver suspeita de APLV no bebê. Certo? Ouço muita gente falando que não devo consumir porque dá cólicas no bebê. Obrigada.

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  • 27 de dezembro de 2016 a 12:51
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    Exelente artigo, omega 3 é de fato muito importante para a manutenção da saúde. Abraço

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  • 26 de setembro de 2017 a 12:23
    Permalink

    Dr, meu bebê está com três meses e, desde que ele nasceu faço uma alimentação paleo LCHF (não como nenhum tipo de grão integral), feijão como raramente, frutas só de baixo índice glicêmico. Estou com sobrepeso e preciso emagrecer. Mas, agora no terceiro mês, meu bebê engordou apenas 250 g, sendo que nos outros meses engordou 1 kg aproximadamente. Ele nasceu saudável e com 3,450 kg. Será que esse baixo ganho de peso é em decorrência da dieta? Preciso modificar algo? (Amamento a livre demanda, mas um fato importante é que ele está dormindo a noite inteira, não mama mais no meio da noite). Abraço!

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    • 9 de outubro de 2017 a 15:22
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      Se você estiver em déficit calórico significativo, impactará na produção de leite, mas me parece um crescimento normal o dele. O crescimento do bebê é em saltos. Que tal procurar um nutricionista para calcular direitinho sua dieta e verificar isso?

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  • 23 de novembro de 2017 a 15:06
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    Olá Dr. Flávio! O senhor poderia falar mais sobre a prescrição de rotina de suplemento de ferro? É realmente indicado? Qual sua opinião?

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    • 24 de novembro de 2017 a 12:03
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      É indicado nos prematuros e bebês de baixo peso ao nascer e nos maiores de 6 meses até 2 anos de idade (não precisa nos que tomam mais de 500ml de fórmula).

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  • 3 de janeiro de 2018 a 11:43
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    Olá Dr. Flávio, li seu artigo e queria muito perguntar sobre a questão de leite “fraco”, meu filho tem 3 meses e nos 2 primeiros ele engordou 1,400 kg em cada e no 3° ele ganhou 765 gramas e esta atualmente com 63 cm, cresceu 4 cm a cada mês. Eu nunca fui de comer (alias a anos não como) feijão, arroz, macarrão, surtos do mar, minha dieta são mais “bobagens” e uma enfermeira que conversei disse que meu leite talvez fosse fraco e que eu poderia complementar com fórmula. Mas ele esta com um bom ganho de peso e está crescendo bastante. Será que devo complementar a alimentação dele ? Ele mama em livre demanda. Agradeço desde já.

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