Amamentação – Parte 6 – Quando não amamentar (e os mitos que te dizem)

Espero que você que está acompanhando a série de posts sobre amamentação e já esteja bastante segura e motivada para amamentar.

Exclusivamente até os 6 meses e com outros alimentos até 2 anos ou mais.

Mas não é raro que eu receba no consultório mães frustradas por terem tido a amamentação contraindicada. Os motivos podem ser vários: um quadro infeccioso que demandou uso de antibióticos, um processo infeccioso atual ou por causa de alguma doença detectada no recém nascido.

Muitas vezes essa indicação está simplesmente incorreta! E é justamente para te ajudar a não deixar o aleitamento materno desnecessariamente, que escrevo esse novo post da série.

Primeiro, vamos falar sobre infecções, pois infelizmente ainda vejo mamães tendo alta da maternidade com a prescrição de antibióticos de rotina nos 7 dias posteriores à cirurgia.

Além de afetar a microbiota da mãe, isso afeta também a microbiota do leite materno, pois agora você já sabe que até no leite materno há micróbios do bem.

Mamães com infecção crônica ou infecção aguda

As únicas infecções que contraindicam o aleitamento materno são por HTLV1/HTLV2 e HIV.

No caso da mãe apresentar uma infecção mais grave – chamada septicemia – e estar internada em UTI, é recomendado ofertar leite humano de banco. Pelo menos até que as condições clínicas dela estejam mais estáveis.

Nas doenças respiratórias transmitidas por gotículas, como a Tuberculose na fase aguda, Coqueluche e Influenza/H1N1, está indicada que você ordenhe seu leite e tome precauções de contato respiratório até que o tratamento seja instituído e diminua o risco de transmissão (dependendo de cada doença).

Já para Hepatite B, fazer vacina e imunoglobulina no bebê e amamentar logo após.

Se for Herpes Simples, só atrasar o início da amamentação se houver lesões ativas no seio ou mamilo.

Fique atenta: não há contraindicação de amamentar no caso de Dengue, Zyka ou Chikungunya.

Quais são as doenças dos bebês que contraindicam a amamentação?

– Galactosemia clássica.

– Má absorção congênita de Glicose-Galactose (CGGM).

– Deficiência congênita de lactase.

– Fenilcetonúria e Doença da urina de Xarope do bordo.

E quando a mãe está doente ou tem alguma doença ou problema crônico?

Em casos selecionados de algumas doenças maternas, a amamentação poderá ser contraindicada ou postergada até melhora das suas condições clínicas.

A depressão grave pós-parto, a psicose puerperal e o distúrbio bipolar descompensado precisam de atenção!

Doenças cardíacas graves, como insuficiência cardíaca grave, se encaixam nesta situação. Assim como em portadores de esclerose múltipla severa.

Nas lactantes que passaram por cirurgia de mamoplastia redutora, pode haver dificuldades com a amamentação.

E quando a mãe está usando ou usou fármacos, drogas lícitas ou ilícitas?

Poucos fármacos contraindicam a amamentação. Normalmente está contraindicada a amamentação com o uso de:

  • Sedativos do grupo dos opióides (ex. morfina, codeína).
  • Alguns psicotrópicos e antiepilépticos (doxepina, zonisamida, por exemplo).
  • Os anticoncepcionais combinados de estrogênio/progesterona.
  • Isotretinoína (para acne).
  • Diversas drogas para tratamento do câncer.

Anti inflamatórios e 99% dos antibióticos são compatíveis com o aleitamento.

Uma lista completa de drogas e sua compatibilidade na gestação pode ser encontrada clicando aqui.

E no caso de drogas lícitas ou ilícitas?

Como você já leu no post sobre como turbinar o leite, o uso de álcool no aleitamento materno deve ser evitado. Além da passagem do álcool para o bebê, pode haver alteração do sabor do leite materno e diminuição da lactogênese (produção de leite).

Nesse estudo, a ingestão do equivalente a 1 lata de cerveja ou 1 taça de vinho chegou a reduzir a produção de leite em 23%!

“- Mas Dr. Flávio, e a tal da cerveja preta para aumentar a produção do leite?”

Essa respondo no último post da série, sobre mitos da amamentação, ok?

No caso do tabagismo, além dos efeitos na saúde materna, a nicotina passa através do LM, altera o sabor, reduz a produção de prolactina e está associado a um menor tempo de aleitamento. O passivo também!

Essa parte abaixo é para os profissionais de saúde que se deparam com uma gestante em trabalho de parto que consumiu drogas. Não é tão raro, infelizmente, e sempre fica a dúvida se deve liberar ou não o aleitamento.

Se houve uso de drogas ilícitas imediatamente antes do parto ou durante o aleitamento, a recomendação é suspender a amamentação pelos seguintes períodos:

  • Anfetamina e ecstasy: 24–36 horas.
  • Barbitúrico: 48 horas.
  • Cocaína, crack: 24 horas.
  • Etanol: 2-3 horas por dose ou até estar sóbria.
  • Heroína e morfina: 24 horas.
  • LSD: 48 horas.
  • Maconha: 24 horas.
  • Fenciclidina: 1–2 semanas

Há estudos que discutem esse assunto em maior profundidade, como este aqui de 2013 publicado no PubMed e este outro também de 2013 publicado no Clinics Obstetricts and Gynecology.

Resumindo…

Como você leu neste post, talvez muitos dos motivos que já te contaram que contraindicariam a amamentação não são baseados na ciência e peço que você compartilhe a informação correta e científica, para incentivar cada vez mais o aleitamento materno, mesmo quando a mãe ou o bebê tem algum tipo de problema.


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Dr Flávio Melo - pediatra

Sou médico pediatra há 11 anos, formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba e Pediatria no Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira (IMIP/Recife-PE). Enxergo que o futuro da prevenção na criança, passa por uma atuação nos hábitos familiares e estilo de vida, desde antes do casal engravidar.

15 comentários em “Amamentação – Parte 6 – Quando não amamentar (e os mitos que te dizem)

  • 17 de agosto de 2016 a 11:35
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    Eu usei morfina logo após o “parto” e amamentei. Não sabia que poderia haver contraindicação. Mas bah!! E o anestesiologista não me alertou. Nem ninguém. Acredito que não tenha sofrido nada a minha bebê, pois hoje já tem 9 meses – ainda amamento, claro!

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  • 31 de agosto de 2016 a 20:01
    Permalink

    Boa noite, estava assistindo a sua palestra na Conalco 2016 . Gostaria de parabenizar ótima palestra.
    E a partir daí tive o conhecimento do ser blog que tb achei maravilhoso.
    Preciso muito me informar sobre o desmame pois tenho um filho de 2 anos 10 meses e não consigo tirar a mama, mas ele já se alimento muito bem. No momento fiz uso do medicamento cabergolina.

    Grata pela atenção.

    Responder
  • 11 de setembro de 2016 a 22:48
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    E grávidas sem nenhum problema de saúde podem amamentar? Minha filha tem 22meses e eu pretendo engravidar logo. O Ginecologista ja foi direto e disse pra desmamar ja! Eu nao gostaria de fazer isso por enquanto se for seguro para o bebê que virá! Queria saber sua opinião.

    Responder
  • 17 de novembro de 2016 a 23:42
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    Boa noite!

    Eu estou escrevendo apenas para parabenizar o conteúdo do seu blog, parabéns.

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  • 16 de janeiro de 2017 a 10:30
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    Preciso suspender o leite materno por 48h devido a icterícia, será que corro o risco do bebê não pegar mais o peito ou o leito secar?

    Responder
  • 20 de fevereiro de 2017 a 11:24
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    Estou escrevendo para Parabenizar esses posts. Muito bom esclarecer para as pessoas sobre a alimentação. Meu bebe está com 1 ano e 10 meses e ainda amamento, apesar de muita gente se contrária e tentar me desestimular.
    Não sei se ainda será explorado nessa sequencia de posts, mas meu bebe só dorme comigo se for mamando, ou seja, acaba dormindo com a boca “suja” de leite e ainda acorda de madrugada para mamar 9tentei acabar com essa mamada da madrugada, mas ainda não consegui). Essa semana fomos ao dentista e ela me orientou que parasse de amamentar, pois os dentes poderiam ter caries (nota: não foi encontrada nenhuma carie), etc etc…. Essa afirmação que o leite materno pode dar caries é verdadeira? O que o sr. sugere que eu faça, pois é dificil acabar com essa mamada da madruagda

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  • 6 de março de 2017 a 23:32
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    Boa noite Doutor,
    Escrevo porque estou muito aflita. Minha filha tem 10 meses e eu ainda a amamento. Sempre evitei dar a ela fórmulas infantis. Voltei ao trabalho quando ela estava com 7 meses e reservava o meu horário de almoço para ordenhar e garantir a mamadeira dela do dia seguinte. Ocorre que eu não estou conseguindo retirar a mesma quantidade que antes e tenho recorrido à fórmula infantil “enfamil” para deixar na escolinha. Existe alguma alternativa mais saudável? Leite vegetal seria uma opção?

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    • 18 de março de 2017 a 07:27
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      Leite vegetal não é opção que substitua. Nesse caso, é muito importante que você conte com a ajuda de um nutricionista.

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  • 30 de setembro de 2017 a 14:34
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    Boa Tarde!

    Meu bebê está com 39 dias e tive algumas dificuldades para amamentar, entupimento do ductos, Fenômeno de Renault no mamilo e ainda um formigamento e queimação terrível nas costas na altura do seio, quase enlouqueci, passei no GO e ele me receitou Rocefim, Meticorten, Nimisulida e Tyflex, não tive coragem de tomar e ainda amamentar por medo dos efeitos, principalmente do Tyflex, no meio da confusão mental tomei dostinex fazem 4 dias, mas estou muito abalada e arrependida por não amamentar.

    Posso voltar a amamentar mesmo tendo tamado dostinex?
    Será que consigo uma relactação após o tempo de decaimento da Cabergolina?

    Por favor me ajude!!!

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    • 9 de outubro de 2017 a 15:18
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      É difícil voltar a amamentar após o Dostinex, mas não custa tentar. Recomendo procurar um pediatra que te ajude e também uma consultora em amamentação.

      Responder

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