Hoje traduzo um post interessante do dr Jason Fung sobre antibióticos. Veja o original em inglês clicando aqui.
Hoje vou escrever sobre algo diferentes do usual (obesidade, insulina, diabetes tipo 2 e afins): antibióticos.
Esta é outra área em que o que se ensina aos médicos atualmente não tem lógica alguma. Me lembra bastante da lógica “Pacientes com diabetes tipo 2 tem muita insulina, então vamos dar um pouco mais e ver se funciona”.
Do ponto de vista da lógica, não faz sentido algum. Então, os médicos adotam aquela postura “Eu sou o especialista então não me encha e faça o que estou pedindo”.
Os tratamentos com antibióticos são bem parecidos. Vamos supor que você vá ao seu médico por causa de uma infecção bacteriana.
Os vírus, como os da maioria das gripes comuns, não são afetados por antibióticos, então não deveriam ser prescritos. Entretanto, porque muitas infecções bacterianas têm os mesmos sintomas, antibióticos são prescritos, apenas “por segurança”.
Isso, claro, leva ao uso excessivo de antibióticos.
À exposição aos antibióticos gera resistência. Neste caso, os antibióticos matarão a maioria das bactérias, mas sempre algumas serão resistentes. Como todas as outras terão morrido, estas bactérias resistentes se multiplicarão e passarão esta característica para as próximas gerações.
Esta transmissão acontece por uma estrutura chamada plasmídeo. Dentro das bactérias, eles ajudam a desenvolver a resistência. Mas estes plasmídeos podem ser transmitidos a outras bactérias, o que significa que tal resistência se espalha mais rápido que usualmente.
A fórmula básica é a mesma. Níveis persistentemente altos de antibióticos levam à resistência aos antibióticos, da mesma forma que acontece com a insulina.
Sabendo disso, a chave seria usar menos antibióticos (obesidade é causada por excesso de insulina, portanto é importante baixar seus níveis no sangue).
Em muitos hospitais dos EUA, super bactérias resistentes à antibióticos tem se tornado um grave problema.
Os médicos americanos adoram usar os remédios mais modernos e com antibióticos não é diferente. Doses altas dos mais novos antibióticos levou, no final, a um tremendo problema de resistência a eles.
Por exemplo, a incidência de MRSA (Methicillin Resistant Staph Aureus) em hospitais americanos dobrou entre 2003 e 2008.
Isso levou a Sociedade para Doenças Infecciosas a reivindicar mais uso de antibióticos em seu estúpido plano chamado 10×20.
10×20 pois querem 10 novos antibióticos aprovados até 2020.
E por que chamo este plano de estúpido? Vamos dar um passo atrás e refletir sobre a lógica por trás do plano. Uso excessivo de antibióticos causa resistência. A resposta óbvia é usar menos antibióticos.
Ao invés disso, de acordo com estes especialistas (bem pagos, por sinal) em infecções, a resposta é criar mais antibióticos.
Sou o único a ver um problema? O problema não é que não temos antibióticos, mas sim que já temos um monte. Se nós simplesmente criarmos mais deles, apenas aumentaremos a resistência das bactérias.
Todo o trabalho de se criar novos antibióticos vai por água abaixo.
Portanto, a resposta não pode ser criar mais antibióticos. Isso é o mesmo que dar mais insulina a pacientes com altos níveis dela. A causa da resistência é uso excessivo dos antibióticos que já temos. Então a resposta é: usar menos antibióticos e não criar mais.
Alcoolismo não deveria ser tratado dando mais álcool. Dependentes de cocaína não deveriam ser tratados com mais cocaína. É estúpido.
Temos notícias na mídia aos montes sobre enorme financiamentos para lutar contra o problema da super bactéria. Uma delas, por exemplo, é sobre o Dr Grad de Harvard, que está pesquisando novas formas de “defender” os medicamentos fantásticos.
Claro, milhões de dólares estão sendo gastos para novas pesquisas na identificação e tratamento de resistência antimicrobiana. Ele recebe apoio de organizações beneficentes para realizar seu trabalho.
Como já sabemos a causa, a maldita solução é óbvia. Uso extensivo de antibiótico causa resistência. Usem menos antibióticos. Caso encerrado. Prejuízo sob controle.
Mas, quando você vai até seu médico por antibióticos, o que acontece? Uma prescrição típica é “tome amoxicilina 500mg três vezes ao dia por 14 dias”. A questão é: como seu médico sabe por quanto tempo você deveria tomar este medicamento?
Você deve imaginar que existem todo tipo de estudos que compararam uso de curta e longa duração de antibióticos. Mas você estaria errado se imaginasse isso.
Na maioria das vezes, os médicos seguem um padrão baseado na precedência. Isto é, alguém montou um tratamento de 14 dias e este é o motivo para também te recomendarem os mesmos 14 dias.
Não há estudos para guiar a duração apropriada do tratamento. Basicamente, o método WAG (wild-assed-guessing, ou seja, um chute). A maior parte da Medicina usa este método, mas os médicos vão tentar te convencer que não.
É padrão tratar infecções incrementando 7 dias ao tratamento (7 ou 14 dias). Por que? Porque alguém fez assim em 1965.
Normalmente, com o antibiótico virá o aviso que você deve tomá-lo por 14 dias, mesmo que se sinta bem no segundo dia. Talvez você faça a pergunta: “Por que tomar por mais 13 dias se eu já me sinto bem?”. A resposta: “Porque eu disse que sim”.
Na maioria das vezes, o motivo que vão te dar para completar o tratamento mesmo que esteja bem é para não causar resistência. Oi? Uso excessivo de antibióticos causa resistência. Então, porque tomar mais 13 dias de antibióticos inúteis para evitar resistência se na verdade isso criará resistência? Que raios…?
De novo, vamos olhar do ângulo da lógica. Se você estiver saudável, seu sistema imunológico é capaz de lidar com a infecção. Em algum momento, ele fica sobrecarregado e você precisa de antibióticos.
Dentro de dois dias de uso de antibióticos, a guerra contra as bactérias está a seu favor. A maior parte dos inimigos está morta e o resto está batendo em retirada.
Podemos, então, parar de usar o arsenal nuclear e deixar com que o sistema imunológico faça a limpeza final. Haverá algum dano? Não.
Qual o pior que pode acontecer? Se as bactérias conseguirem reagir, você toma mais antibióticos.
Mas o que pode acontecer se você continuar tomando pelo resto dos 14 dias, mesmo estando bem? O nível de resistência aumentará e as próximas batalhas serão mais duras.
Benefícios? Não que eu saiba. O problema da resistência aos antibióticos não pode ser subestimado. Não afeta apenas você mas todo o sistema de saúde. É um problema em que ninguém se beneficia.
Que raios…???
No hospital que trabalho, assim como em muitos outros, Programas de Administração de Antibióticos (em inglês Antibiotic Stewardship Programs (ASP)) para este fim.
É composto de profissionais especialmente treinados, como médicos e farmacêuticos, que analisam as prescrições de antibióticos feitas por médicos e fazem sugestões.
Certos antibióticos têm seu uso generalizado deliberadamente restritos para evitar a criação de resistência. Desta forma, quando aparece uma infecção forte e terrível, eles ainda serão efetivos.
Um artigo recentemente publicado no JAMA argumenta que menos é mais. Ele revisa todos ensaios clínicos recentes nos quais todas as vezes o uso menos prolongado de antibióticos foi tão efetivo como o mais prolongado.
Na maioria dos casos, daria para usar de 1/3 a 1/2 da dose e obter o mesmo resultado. Isso significa 1/2 a 1/3 menos resistência, meu amigo!
É meio que óbvio. Suponha que você esteja lavando seu carro. Você pode lavá-lo por 10 minutos e ele ficar limpo.
Você deveria continuar por mais 60 minutos e achar que ele ficaria mais limpo? Claro que não!
Bom, então se as bactérias estão em sua maior parte mortas (e o resto será cuidado pelo sistema imunológico), qual o sentido de continuar tomando remédios? Nenhum.
Portanto, qual a maneira lógica de se usar antibióticos? Bem, é simples. Se você não precisar, não tome (ou seja, quando a infecção for viral).
Se você precisar, tome. Mas apenas até que você se sinta melhor. Depois disso, pode confiar no seu corpo (assumindo que você é saudável) para fazer o resto.
Se você precisar de apenas três dias de antibióticos, tome apenas três dias. Se forem duas semanas, o raciocínio é o mesmo.
Mas não tome duas semanas se você precisar de três dias.
Às vezes acho que o único lugar da Medicina no qual há problemas de lógica é a Nutrição. Infelizmente, não é assim.
Dr. Você deve ser odiado por muitos. Mas eu te amo! Mãe de 3 de 6,4 e 8 meses. Grata. Comemos comida de verdade, usamos vitamina S e também questionamos “algumas coisinhas” relacionadas às indústrias alimentícia e farmacêutica. Prossiga, precisamos de você!
Muito bom
Olá dr. Flávio. Parabéns pela publicação do excelente artigo! Sou curitibana (capital paranaense, a mais fria e chuvosa do Brasil) e mãe de dois meninos. Todo inverno sofremos com as intermináveis variações climáticas, o que afeta em muito a saúde do meu mais velho de 6 anos que aparenta ter asma. Já passamos por vários especialistas e fizemos uso de muitos medicamentos (broncho vaxom, montelair, avamis, probioticos, vitamina D, flixotide, e atualmente, aerolin e seretide). Apesar de tudo isso, as infecções se repetem constantemente e o uso dos antibióticos sempre é feito, infelizmente. A grande questão para uma mãe leiga como eu é como saber em quais destas vezes realmente eles seriam necessários!
Como proceder quando os profissionais que deveriam cuidar da saúde de seu filho, estão mais preocupados em tratar apenas da doenca? Como encontrar ajuda efetiva mesmo depois de procurar em tantos caminhos? Como proceder para que o próximo inverno seja menos devastador?
Obrigada. Daniele
Para ser bem sucinto, tudo deve começar com uma boa avaliação da imunidade, algumas crianças de fato tem imunodeficiências primárias e apresentam padrão de infecções mais frequente e severo. Além disso, uma alergia tambem pode precipitar esses problemas todos.
Obrigada dr. Flávio! Seu trabalho tem me orientado bastante. Abraços