Meus amigos, o mundo, definitivamente, está meio estranho! Me deparo com esse estudo publicado na revista JAMA Pediatrics, sobre a associação entre comer peixe na gravidez e maior peso e taxas de crescimento na prole.
Logo depois chegam os talebãs do instagram e seu terrorismo nutricional: um dia pode, outro não pode, um dia é a salvação, no outro é a morte…
E daí lemos suas chamadas sensacionalistas:
– Peixe não pode na gravidez!
– Engorda as crianças!
– São venenosos e cheios de mercúrio!
Calma, comer peixe continua sendo bom
Vou destrinchar rápido:
O estudo acompanhou a variação de peso e IMC entre os pacientes participantes: filhos de mais de 26 mil mulheres, acompanhados em intervalos de dois anos até os seis anos de idade.
Concluiu-se que os filhos de mulheres que comiam peixe mais de 3x por semana durante a gravidez, teriam uma diferença positiva entre 5 e 22% na variação do peso, quando comparados aos das mães que consumiam menos de 3x por semana.
Para a amostra escolhida, esta é uma diferença estatisticamente insignificante quando olhamos em termos absolutos. Imagine dois bebês, um com aumento de um quilo de peso e o outro com 1,05 ou até mesmo 1,22 quilo depois de 6 anos. Será mesmo que um bebê que ganhou 220 gramas a mais em tal intervalo tem maior risco de obesidade? Claramente não!
Sim, às vezes diferenças percentuais enganam muito. Fique ligado!
Detalhe: o ganho de peso foi estimado por um modelo estatístico, que poderíamos chamar pelo nome popular vidência. Por quê? Simplesmente porque as crianças não foram pesadas ao longo de todo o estudo: foi feita uma previsão a partir dos pesos que obtiveram em medidas esparsas.
E você que tem mais de um filho que não são gêmeos idênticos já sabe, crianças não crescem iguais, afinal, não são robôs. Além disso, o crescimento não é linear durante toda a infância.
Outra coisa, ganhar peso não significa ganhar gordura e não foram feitas estimativas de composição corporal. Simplesmente eles podem ter maior peso porque tem mais músculos, ora! E qual a dieta dessas crianças e os outros inúmeros fatores de estilo de vida, doenças intercorrentes, etc.????
E sobre o veneno?
Bem, os autores citaram no texto os riscos do consumo excessivo de peixes e exposição à disruptores endócrinos e mercúrio, porém nunca foi demonstrado com um estudo sério esses efeitos com um consumo normal (afinal, quantas vezes por semana você consome?).
Pior: todos os milhares de estudos que acompanharam populações que consomem peixe, associam este à menor mortalidade, morbidade e melhores indicadores de saúde (olá, Dieta Mediterrânea! Bonjour Dieta Paleo! Ou qualquer outra que você prefira que tenha peixes).
Portanto, direto e reto. Gestantes: comam peixe, preferivelmente os do mar, preferivelmente frescos, mas bem passados, de espécies variadas, até 3 vezes por semana. Ou você vai preferir trocar uma bela posta de meca no azeite, por um Cheeseburguer?
Dr., e o consumo moderado (1x por semana) de sashimi durante a gestação?
PS: me inscrevi no site mas ainda não recebi seu ebook.
Não recomendaria.