Um dia eu ganhei um belo presente, mas que significou muito mais do que ser presenteado, vindo de quem veio.
Anos atrás, quando nem sequer existia WhatsApp ou Facebook, eu passei por um dos piores momentos da vida profissional de qualquer pediatra puericultor: a perda de um paciente.
Em menos de 72 horas, um bebê filho único, que começou sendo atendido por mim com um simples resfriado, terminou sua vida com uma miocardite viral fulminante. Tentamos reanimá-lo na UTI, mas sem sucesso.
Seus pais, do lado de fora em desespero e eu no meio daquele furacão, que terminou da pior forma possível.
Por meses aquelas imagens me perseguiam, me questionava o que poderia ter sido diferente, até mesmo onde poderia ter falhado. Porque nunca, mas nunca mesmo, desejo que isso aconteça na vida de ninguém.
Cerca de 11 mês depois, toca a campainha da minha casa por volta das duas da manhã. Quase não acreditei que eram eles com um bebê de 2 meses de idade. Estavam desesperados com uma cólica que não melhorava.
Naquele dia não consegui mais dormir. A estupefação se transformou em gratidão a Deus, pois não só eles me confiavam mais uma vez um filho. Deus os confiou outra vida, no dia que haviam perdido sua bebê.
Hoje o menino já está grande, inteligente e saudável (apesar de alguns atropelos) e sua outra filha, com quase 3 anos, é esperta e saudável e nossa relação é forte e a confiança plena.
Ao atendê-la mais uma vez, ganhei esse presente delicioso. A mãe me contou que o pai esteve no Rio Grande do Sul, lembrou-se de mim e o trouxe em agradecimento.
Pelo jeito, a estrada da vida e o tempo curou nossa dor e hoje nos proporciona felicidade.
Então, se um dia alguns dos meus filhos quiser ser Pediatra e me perguntar o que ela é, direi: é uma profissão onde existe a delícia e a dor, andando de mãos dadas, rumo à felicidade.
Feliz dia do Pediatra a todos os colegas de missão!