Escola sem doença

Como se preparar para a escola precoce e as doenças frequentes.

É sempre um dilema. Você precisa trabalhar, afinal, as contas se acumulam e ao pensar em colocar o bebê na escola ou creche, já vem aquela sua amiga te alertar que vai ser uma doença atrás da outra.

Não vou te enganar, é tenso mesmo. Se antes nós entrávamos na escola ao redor dos 5 anos, agora, mal o menino está sentando, já está numa sala com mais outros dez bebês exalando catarro e de vez em quando vomitando ou com diarréia.

Aí não tem jeito. É doença na certa.

Mas, encarando a realidade, especialmente nos grandes centros, é um cenário bastante provável na vida da sua família.

Mas será que tem jeito de se preparar, amenizar os riscos e lidar melhor com essa situação?

Vou tentar te convencer que sim e te ajudar nessa postagem.

E antes disso, um alento, pois um estudo realizado no Canadá, publicado em 2010 (1), que acompanhou durante 8 anos crianças que entraram na creche ou escola ao redor dos dois anos, demonstrou o que já sabemos: elas adoecem mais no início.

Mas o alento é que, mais tarde, na fase dos primeiros anos do chamado fundamental 2, adoecem menos do que as crianças que entraram tardiamente.

Outra coisa que você precisa saber, é quantas infecções esperar, nos primeiros anos de escola.

Um estudo realizado em Dezembro de 2016, na revista Pediatric Infectious Disease, respondeu essa questão (2):

– Em um ano, a maioria das crianças tiveram 45 dias com sintomas respiratórios, ou seja, em torno de 6 episódios de infecções respiratórias. A maioria das infecções foi pelo Rinovírus, o vírus do resfriado comum.

– O que seria considerado um quadro de infecção recorrente, seria em torno do dobro, ou seja, cerca de 90 dias de sintomas ou 12 infecções respiratórias. Acima disso, importante investigar se não há algo anormal.

– As crianças com infecções recorrentes tomaram mais antibióticos, tiveram mais complicações e aumentaram o risco para desenvolver asma e ter indicada a retirada de amígdalas e adenóides.

E se eu deixar para colocar o menino um pouco mais tarde, será melhor?

Respondendo objetivamente, com outro estudo, sim. Deixar para colocar na escola acima de 1 ano de idade, diminui importantemente o risco de internamento por infecções respiratórias (3).

 

Mas, se for inevitável colocar o menino cedo na escola, o que pode ser feito para prevenir essa infecções e suas complicações?

Seguem 10 dicas importantes:

 

1- Conheça o ambiente da escola/creche

 

Ambientes lotados, com mais de 12 crianças por sala, mal ventilados ou muito restritos aumentam substancialmente o risco de infecções, especialmente as respiratórias e digestivas.

creche

2- A escola/creche precisa incentivar medidas de higiene e a etiqueta respiratória

O ideal é ter dispensadores de papel toalha descartável e alcool em gel na sala e que o banheiro seja limpo com frequência. Um fraldário separado da sala de aula com materiais descartáveis e local específico para descarte de fraldas é imprescindível.

 

3- Não mande seu filho com febre, diarréia ou vomitando para a escola.

E esteja pronta, com plano A, B e C, para pegá-lo na escola em caso de quaisquer desses sintomas. No caso das infecções respiratórias, só voltar para a escola após resolução do quadro febril e com tosse leve, o que seria em torno de 5 dias. No caso da diarréia, só voltar após um dia que as fezes estejam normais e sem vômitos.

 

4- Limpe ou lave todos os utensílios que ele leva para a escola semanalmente, incluindo a bolsa e a lancheira.

Ensine a ele a etiqueta respiratória (se for possível) e a evitar compartilhar utensílios e lanches, eles são a maior fonte de infecção.

 

5- Deixe o cartão de vacinas em dia.

É a melhor forma de proteger o seu filho e os demais coleguinhas. Considere ampliar a proteção, se couber no bolso e especialmente se morar no Sul/Sudeste para os menores de 2 anos, fazendo a vacina para Meningococos ACWY e B, além da Pneumocócica 13-valente. Se não der, pelo menos deixe todas as do SUS em dia.

 

6- Não falhe com a vacina de Gripe/Influenza.

Se o seu filho for alérgico à ovo, mesmo assim tem como fazer com supervisão e avaliação prévia com alergista. Nos prematuros com indicação, faça o Palivizumabe, que previne as infecções pelo VSR.

 

7- Desde os primeiros meses de vida, não deixe de colocá-lo em contato com o chão, para desenvolver sua imunidade.

Nos finais de semana, coloque ele em contato com a natureza. Valorize uma escola que conte com áreas verdes e parques ao ar livre.

 

8- Não existem remédios milagrosos, mas, definitivamente, evite que ele tome antibióticos a cada doença.

Existem remédios fitoterápicos, que podem ser prescritos pelo seu pediatra no início do quadro, que podem abreviá-lo e diminuir os sintomas.

 

9- Não existe evidência científica do uso de Pelargonium, Equinácia, Oscilococcinum como preventivos para os quadros.

Confie no seu pediatra e não na indicação da vizinha interneteira. Nos casos recorrentes (90% não são), algumas opções podem ser consideradas, como os lisados bacterianos, mas somente com prescrição médica (4).

 

10- O mais importante: a prevenção é através da comida e a suplementação pode ser feita, mas com avaliação e prescrição do pediatra e nutricionista.

Segue abaixo o que existe de evidência sobre comida e suplementos na prevenção:

 

Vitamina D – além da exposição responsável ao sol, o pediatra deve prescrever de rotina e não precisa ser associada à vitamina A (5).

 

Zinco – Há evidências robustas da influência do zinco na diminuição da incidência de pneumonia. Se não tiver como garantir na alimentação, com ajuda da nutricionista, ele pode ser prescrito, por um período variando entre 3 meses e 6 meses (6).

 

Selênio – Outro elemento muitas vezes ausente da dieta e que tem uma grande influência no estado imunológico. Meia castanha do Pará já pode ser suficiente para suprir as necessidades de uma criança ao redor dos 2 anos. É só amassar bem e colocar no iogurte. (7)

 

Probióticos – Dois estudos importantes, publicados em 2001 (8) e 2016 (9), mostraram que a suplementação de probióticos, quer seja via iogurte/leite fermentado ou suplemento, diminuiu significativamente a incidência de infecções respiratórias e intestinais em crianças de creche e na idade escolar. Pontos para o iogurte, o queijo e o kefir. Se a criança for alérgica à leite, há a opção de probióticos em suplementos.

 

Xilitol – Um tipo de açúcar/adoçante, que tem efeitos em inibir a proliferação de bactérias e já demonstrou em estudos prevenir otites. Pode ser uma alternativa para, ao mesmo tempo, adoçar algumas preparações e ter o beneficio para a saúde do seu filho. O problema é que não é barato. (10).

 

Omega-3 e Azeite extravirgem – São essenciais no equilíbrio da resposta inflamatória e consequentemente a resposta a infecções. Dê peixe pelo menos duas vezes por semana.

 

Temperos e antioxidantes – Contém óleos essenciais e polifenóis que também ajudam à imunidade.

Dica final: corra léguas da comida ultraprocessada (as famosas besteiras), pois elas podem alterar a resposta à infecções e às vacinas, especialmente se seu filho estiver acima do peso.

Referências:

1.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21135342

2.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27455443

3.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/labs/articles/17015534/

4.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17054227

5.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28202713

6.http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD005978.pub3/abstract

7.http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1747-0080.2008.00260.x/abstract

8.http://www.bmj.com/content/322/7298/1327

9.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27495104

10.http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD007095.pub3/abstract


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Dr Flávio Melo - pediatra

Sou médico pediatra há 11 anos, formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba e Pediatria no Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira (IMIP/Recife-PE). Enxergo que o futuro da prevenção na criança, passa por uma atuação nos hábitos familiares e estilo de vida, desde antes do casal engravidar.

21 comentários em “Escola sem doença

  • 27 de maio de 2017 a 15:23
    Permalink

    Oi Dr. Flávio! Obrigada pelo ótimo post! A partir de que idade podemos dar kefir?
    Abraços!

    Responder
  • 29 de maio de 2017 a 11:11
    Permalink

    Oi Doutor. Estava ansiosa pelo post. No nosso caso aqui, família longe, então temos que colocar no berçario.

    Uma dúvida: existe então uma vacina que previne VSR?

    Grande abraço

    Responder
  • 11 de junho de 2017 a 12:56
    Permalink

    Minha filha tem um ano e 4 meses e há três meses atras parou de mamar leite materno. As pediatras que conversei falaram que até os dois anos quando não estão no peito precisam de fórmulas infantis na dieta. Mas os ingredientes dessas fórmulas são terríveis. Todas tem óleo de girassol e canola. Minha filha começou a ter refluxo tardio com elas, mesmo a hidrolisada. Não queria dar mas não sei o que colocar no lugar até os dois anos
    O senhor tem alguma sugestão? Ou algum site que explique melhor qual a necessidade desse leite para eles? Obrigada

    Responder
  • 16 de junho de 2017 a 09:21
    Permalink

    Seus posts são sempre muito bem escritos e embasados, obrigado por sempre ter o cuidado de colocar as referências bibliográficas.
    Você não tem uma amiga pediatra para indicar em São José dos Campos-SP? Rs

    Responder
  • 5 de julho de 2017 a 00:36
    Permalink

    Ótimo texto, como sempre! Quero por meu menino na escola com 3 ou 4 anos. O que você acha?

    Responder
  • 18 de julho de 2017 a 14:05
    Permalink

    Parabéns pelo excelente trabalho!
    Infelizmente meu filho iniciou a mamadeira com fórmula com 15 dias de vida, fiquei preocupada, mas graças a Deus ele raramente fica doente. Começou na escola com 2 anos de idade e desde seus três meses de vida iniciei o tratamento homeopático. Nessa época ele comia muito bem e apenas verduras, legumes e frutas, até seus dois anos ele não conhecia o açúcar a não ser em forma de fruta! Eu e meus irmãos começamos tratamento homeopático desde pequenos e nunca tivemos problemas de saúde. Não sei se há algum texto no blog sobre esse tema, descobri esse blog somente hoje e estou amando! O que o senhor acha das homeopatias?
    Parabéns pelos excelentes textos! E obrigada por compartilhar!
    Gabriela.

    Responder
  • 22 de julho de 2017 a 21:41
    Permalink

    Olá Dr.
    o pediatra da minha filha receitou zinco para ela. No entanto, o que encontrei nas farmácias, em forma de xarope ela não toma. Da ânsia e vomita. Teria algum mastigável? O Dr conhece algum? Vi que nos EUA tem. Queria saber se há alguma marca confiável. Obrigada

    Responder
  • 31 de agosto de 2017 a 21:38
    Permalink

    Na hipótese de meu filho ter tomado as vacinas segundo o calendário nacional de vacinação, ainda é possível dar as vacinas acwy e a pneumo 13 ?

    Responder
  • 31 de agosto de 2017 a 23:29
    Permalink

    Sorte a minha tivesse um pediatra como você aqui em Sp.
    Minha filha de cinco anos tem bronquite asmática,rinite e sinusite.
    Vive a base de remédios.
    Montelair já foi receitado por muitas vezes.Mas sinceramente não vejo melhora.

    Responder
  • 31 de agosto de 2017 a 23:45
    Permalink

    Boa noite.. esse seu post me chamou muito a atenção.. por favor me ajude. Meu bebê tem 2 meses e 2 semanas. Ele nasceu de parto cesárea e puxado a ferro. E a nota de Apegar era 4.. quando fui no pediatra ele tinha 18 dias e ele comentou que com essa nota de apegar provavelmente ele tenha sido reanimado e de fato no parto eu vi que colocava um sugador nele. Desde q fui no pediatra ele passou Rilan 2%, salsep, clenil a. Pq ele disse que meu filho tinha uma tal de rinite fisiológica eu comecei a dar mas ele continuou com um ronco no nariz. Falei p pediatra e ele mandou dar Montelair.. ok tô dando, mas alguns dias depois meu bebê começou a ficar mais sonolento. Daí fui na medica do sus e ela pediu pra suspender os medicamentos exceto o salsep. Fiz isso. Mas meu filho tá tossindo mais ainda e com narizinho entupido. O que eu faço? Volto a dar montelair?

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    • 3 de setembro de 2017 a 20:38
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      Importante você levar para uma avaliação com otorrino. Lembro que o Montelucaste só é liberado para maiores de 6 meses de idade.

      Responder
  • 7 de setembro de 2017 a 21:17
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    Dr. Existe uma doença chamada exantema súbito que pode ser acontecer quando a criança vai para creche. Essa doença sempre é acompanhada de febre? Minha bebé empolou o corpo mas não teve febre.

    Responder
  • 20 de fevereiro de 2018 a 07:46
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    Bom dia Dr., Meu filho tem 4 meses, e com 6 vai para o berçário, pq n enho c quem deixar em casa, ele ainda não vacinou nenhuma vacina particular só as do SUS. Gostaria de saber qual vacina particular devo dar a ele antes de ir p a creche c 6 meses. Mto obrigada.

    Responder
    • 28 de fevereiro de 2018 a 21:19
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      Sugiro que você a leve para avaliação médica. Não há como dar orientações à distância para casos particulares.

      Responder
  • 20 de fevereiro de 2018 a 07:52
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    Muito boa a matéria!! Só acrescento um detalhe muito importante a meu ver que não encontrei no texto: a amamentação!
    Na minha opinião (humilde) a amamentação exclusiva e prolongada garante a prevenção de muitos problemas no início cada vez mais precoce dos filhos na escola/creche. Não tive contratempos com meu filho mais velho que tem hoje 3 anos e tenho certeza que o mais novo com 3 meses não terá problemas!!! Indico pra todos!!

    Responder

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